Política

Cidistas inflam o PSB e tornam o partido dono da maior bancada na ALECE

Com o Diário do Nordeste- A filiação de deputados estaduais no PSB, na sexta-feira (7), movimentou as articulações políticas cearenses de olho na eleição de 2026. Capitaneada pelo senador Cid Gomes, a sigla saiu de zero representantes na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) para a maior bancada partidária da Casa, com 10 deputados em exercício agora filiados.  

Ao todo, foram onze dissidentes pedetistas (entre parlamentares licenciados e suplentes) e um do PL, Marta Gonçalves, atraídos para a agremiação — que tem o senador como principal liderança e Eudoro Santana, pai do ministro Camilo Santana (PT), como presidente do diretório estadual. 

O evento de recepção dos novos correligionários contou com a presença de prefeitos da legenda, que, no último pleito, conquistou 65 administrações municipais. O número pode ficar ainda maior, já que o próprio Cid revelou que novos gestores devem se juntar ao grupo.  

O objetivo principal é “fortalecer o PSB” para montar chapas competitivas para a Alece e a Câmara dos Deputados. O Senado também está no radar, mas o senador e o grupo político governista do Estado têm demonstrado preferências divergentes para uma das duas vagas que serão disputadas. 

 

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Na ocasião, Cid defendeu o deputado federal Júnior Mano (PSB) para uma das vagas, caso o PSB tenha direito a indicar um nome após acordo com o grupo. O aliado é um dos recém-filiados ao partido, tendo deixado o PL para compor o PSB em dezembro do ano passado. As divergências acirram os ânimos e têm levado Cid a cogitar uma candidatura a deputado federal em 2026, cobrança que tem sido feita por outros de seus colegas. Nem todos, porém, consideram a ideia coerente.  

PSB disputará o Senado em 2026 

Os questionamentos sobre a possibilidade de reeleição para o Senado foram feitos a Cid ainda na chegada ao evento. Primeiro, o senador disse “não descartar nada”, mas, no palanque, foi mais direto sobre o que pensa. O ex-governador disse que não tem “nenhuma pretensão” de concorrer a algum cargo específico. 

Em seguida, decidiu fazer publicamente a defesa do nome de Júnior Mano como candidato ao Senado. O aliado cidista foi o primeiro deputado federal a migrar para o PSB, após crise interna no PL durante as eleições de 2024. 

 

 
Não tenho nenhuma pretensão, juro, mas as pessoas não acreditam. ‘Cid, o que é que você quer ser?’ Eu não quero ser nada, eu já fui muito mais do que pedi a Deus. (…) Olha o que eu estou dizendo, não estou colocando responsabilidade em ninguém, só na minha responsabilidade: se o PSB tiver uma vaga na composição de uma chapa majoritária lá para frente, o meu candidato é o Júnior Mano a senador. Então, quero deixar isso aqui público
Cid Gomes (PSB)

Senador da República

 

A fala ocorreu logo após o presidente estadual da sigla, Eudoro Santana, defender a “reeleição do governador Elmano (PT) e do senador Cid Gomes” e expôs as divergências de pensamentos entre os aliados mais ligados ao Palácio da Abolição e o senador. 

 

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Ao fim da cerimônia, o governador Elmano de Freitas evitou comentar o assunto, alegando que “que pensar nisso em 2026”. 

“É um direito do senador dar a opinião dele. Eu desejo conversar sobre isso em 2026, é o que eu desejo, é o que eu vou fazer. O MDB, por exemplo, fala no Eunício (Oliveira, atualmente deputado federal); o PT fala no Guimarães (José Guimarães, também deputado federal). Então, é natural que um líder do PSB fale de um candidato que possa ser seu. É natural do jogo político”, disse o governador. 

 

Evento PSB
Legenda: Eduardo Bismarck (PDT) e Júnior Mano (PSB) no evento de filiação do PSB Ceará
 

 

Já Júnior Mano disse estar “lisonjeado” pela lembrança: “Quem é que não tem interesse? Se você está na política, num quadro profissional, lógico que você quer chegar em um quadro melhor. Na política é isso. Se você está como deputado federal, você almeja sempre ter um cargo no Senado Federal, que é onde eu posso ajudar mais ainda o Estado do Ceará e a política brasileira. E fico lisonjeado de ter sido falado pelo senador Cid Gomes, que é uma grande referência do nosso Estado”, pontuou Júnior Mano (PSB). 

Já durante o evento, as declarações geraram comentários de bastidores. Teve aliado defendendo o nome de Cid para o Senado, mas questionando o holofote sob Mano. Teve quem defendesse a tese de Cid sair candidato ao cargo de deputado federal, já que poderia obter “500 mil votos” e ajudaria o partido a crescer — ao puxar quadros que não detêm a mesma quantidade de sufrágios.

Após rumores de crise, PSB reforça apoio a Elmano 

Com a presença de Elmano de Freitas, o atual governo foi alvo de elogios e acenos dos peessebistas. Em seu discurso, Eudoro Santana ressaltou que a sigla teve uma “trajetória importante” ao decidir apoiar o Governo Elmano ainda em 2023, com a mudança de direção no Estado. Nas eleições de 2022, o partido compôs a coligação adversária, liderada pelo PDT, após rompimento com o PT. 

“O papel de um partido como o PSB nesse momento, com todos esses problemas que estamos vivendo no Brasil e no mundo, com essa loucura do presidente dos Estados Unidos (Donald Trump), que nós não sabemos onde vai parar, é fundamental que o conjunto dos partidos do campo progressista no Ceará, como no Brasil, estejam fortalecidos e unidos, trabalhando para, primeiro, fortalecer o projeto do Brasil com Lula e Alckmin”, destacou o dirigente.  

Eudoro também defendeu a continuidade de Elmano de Freitas no Governo do Estado. “(Devemos) preparar o PSB para a eleição de 2026, quando esperamos não só reeleger o projeto nacional, mas também reeleger o projeto estadual, com o nosso governador, e reelegendo o senador Cid Gomes para a grandeza do Ceará”, complementou. 

No final de 2024, houve rumores de possível rompimento entre Cid e Elmano. Na época, diferentes lideranças, inclusive o próprio presidente estadual do PSB, saíram em defesa da manutenção da aliança. 

Foco em manter coesão de grupo 

Na esteira das declarações de Eudoro, o governador Elmano de Freitas e o senador Cid Gomes usaram o evento dessa sexta-feira para afinar ruídos públicos. Os movimentos são tomados após esse estremecimento recente da relação entre os dois, elos fundamentais da estrutura do bloco governista. 

Sob ameaça de deixar o grupo, a insatisfação do senador com a distribuição de espaços de destaque nos núcleos de poder deflagrou, em novembro, uma crise entre ambos, que foi pacificada em cerca de duas semanas. 

 

Léo Couto, Romeu Aldigueri e Cid Gomes
Legenda: O vereador Léo Couto, o deputado Romeu Aldigueri e o senador Cid Gomes no evento de filiação do PSB
 

 

Posteriormente, ambos reiteraram o compromisso dentro do arco de aliança e negaram ruptura. O evento desta sexta-feira veio como um complemento disso, com acenos claros pela manutenção da boa relação não só entre as duas lideranças, mas entre atores menores nessa dinâmica.  

“Se Deus quiser, em 2026, nós vamos botar as três cadeiras do Senado do lado das forças progressistas no estado do Ceará. Só que isso coloca desafios para nós. O mais comum no Ceará é no nosso dia a dia da política, é uma disputa entre partidos da nossa base aliada”, pontuou Elmano.   

“Nos municípios, disputamos, às vezes. (O embate) foi o PT com o PSB, ou o PSB com o PSD, ou com o MDB, ou o Republicanos com o PP. Partidos que integram uma aliança no Estado, e essa nossa disputa no local às vezes pode ser uma tentação para nós perdermos de vista o que de fato é a disputa da sociedade brasileira, que não é entre nós. É esse campo de aliança que temos no Ceará contra uma extrema-direita”, completou o governador. 

Ainda em relação a 2026, Cid mencionou o esforço para a eleição de bancadas fortes no Legislativo e a articulação com os dirigentes e lideranças para as definições relacionadas aos cargos majoritários.  

Aqui, citou o próprio governador Elmano; o ministro Camilo Santana (PT); o secretário de Desenvolvimento Econômico do Ceará, Domingos Filho (PSD); o deputado federal Eunício Oliveira (MDB); e o presidente estadual do Republicanos, Chiquinho Feitosa.  

Ao comentar a sua participação no pleito de 2026 – se será candidato ou apenas agir nos bastidores –, Cid destacou a dedicação pelo “projeto”, e não por uma “disputa pessoal”. 

“Acho que mais importante que uma candidatura minha, é um projeto para o partido, de fazer uma bancada relevante de deputados federais e o meu desejo é fazer a maior bancada de deputados estaduais na Assembleia. Tudo que for necessário para que isso aconteça, eu estarei disponível. Inclusive, (posso) abrir mão ‘de uma disputa pessoal’, afirmou, ainda.ou, ainda. 

Bancadas na Câmara dos Deputados e na Alece 

Nesta sexta, ao conceder entrevista coletiva, pouco antes do início do evento, Cid Gomes comentou sobre a estratégia do PSB para a montagem de chapas proporcionais que irão concorrer em 2026. Segundo ele, que é o vice-presidente do partido no Ceará, essa articulação contará com sua participação direta.  

“No momento, o que vai tomar minha atenção, minha dedicação, meu tempo, é programar uma quantidade e uma relação de pessoas que concorram à Câmara dos Deputados e para a Assembleia Legislativa”, disse Cid, ressaltando que debates em torno de uma majoritária irão acontecer apenas no próximo ano. 

 

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Chegaram no PSB, somente nesta leva de filiações, 12 nomes. A lista inclui deputados estaduais e suplentes, fazendo com que a legenda tenha, a partir de agora, a maior bancada parlamentar do Legislativo estadual. 

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